Twist and Shout, música de Phil Medley e Bert Russell, que ficou mundialmente conhecida na gravação dos Beatles, talvez seja mais lembrada por muita gente graças a uma cena antológica de um certo filme que mostra um garoto em cima de um carro alegórico, durante desfile alemão por uma avenida de Chicago, e que leva milhares de pessoas a cantarem junto a canção. O rapaz chama-se Farris Bueller e, “o” filme, Curtindo a Vida Adoidado, clássico do cinema adolescente lançado em 1986, reprisado tantas e tantas vezes. Impossível não idolatrar Farris que, em apenas um dia, realizou por tabela o sonho de milhões de garotos.
O sucesso do longa pode ser atribuído a alguns fatores: Matthew Broderick, apesar de não mais ser um garoto na época, caiu como uma luva para o papel principal. E o elenco coadjuvante é ótimo, desde Mia Sarah, à Jennifer Grey e Charlie Sheen, que fez pequena aparição. A trilha sonora bacana e as gags deliciosas também colaboraram. Mas principalmente, o culpado por tornar Curtindo a Vida Adoidado um clássico é o diretor e roteirista John Hughes, cineasta que melhor soube dialogar com os adolescentes. Ele faleceu em 6 de agosto de 2009, vítima de um infarto em Nova York, onde passava suas férias. Vale relembrar a trajetória do cineasta.
Chamado de Spielberg das comédias sobre jovens, Hughes, faz falta no cinema atual. Retratou suas histórias sempre nos arredores de Chicago. Nasceu em 1950, num dia 18 de fevereiro, em Lansing, Michigan. Deu início à sua brilhante carreira escrevendo, na década de 1970, para a humorística National Lampoon’s Magazine.
Seu talento como criador impressionava. Era capaz de escrever o roteiro em uma semana e possuía a sensibilidade necessária que muitos pais não tiveram e ainda não possuem: compreender os adolescentes. Os nerds, então, encontraram nele um amigo, um confidente, deixaram de ser o motivo de chacota para virarem heróis. Hughes nos deu esperança.
Roteirizou Class Reunion (1982), Nate and Hayes e Vacation (ambos de 1983), mas foi em 1984 que ele começou a ganhar o mundo, lançando ao estrelato a atriz Molly Ringwald, a “Juno” da década de 1980, em Gatinhas e Gatões, primeiro de quatro produções celebradas e inesquecíveis: as outras três são Clube dos 5 e Mulher Nota 1000, os dois lançados em 1985, e o já citado Curtindo…, do ano seguinte.
Todos clássicos absolutos. Filmes que jamais nos enjoam, com tramas divertidas, universais e atemporais. Afinal, não importa o ano ou a década, sempre vai haver um garoto deslocado em busca de identificação.
Fora esse tato para levar compreensão e felicidade à garotada, o cineasta foi pródigo em catapultar a carreira de novos talentos. Revelou, além de Molly, atores como Emilo Estévez, e seu irmão Charlie Sheen, o próprio Matthew Broderick e até Macaulay Culkin, este último em Quem vê Cara Não vê Coração (1989).
Produziu A Garota de Rosa Schocking (outro estrelado por Molly) e Alguém Muito Especial, filmes dirigidos por Howard Deutch, que foi lançado por ele, e ainda foi roteirista e produtor de vários longas infantis de sucesso como os três Esqueceram de Mim (1990, 1992 e 1997), Dennis, o Pimentinha, 1993, Ninguém Segura esse Bebê (1994), 101 Dálmatas (1996), Flubber (1997) e Nadando Contra a Corrente (1998).
Viveu recluso nos últimos anos, longe da mídia, o que tornou maior seu mito. Ainda colaborou com roteiros de Os Viajantes do Tempo (2001), Encontro de Amor (2002) e Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor (2008).
Seu legado para o cinema é imenso.