Alguns personagens se tornam queridos a ponto de torcemos por eles como se fossem nossos amigos. Rocky Balboa é um desses exemplos. Há mais de 40 anos o Garanhão Italiano nos empolga e faz chorar em filmes ora muito legais, ora irregulares.
Quando achávamos que já tínhamos acompanhado toda a sua trajetória, o jovem cineasta Ryan Coogler fez o excelente Creed: Nascido Para Lutar (2015, lançado no Brasil no início de 2016), colocando o personagem de Sylvester Stallone treinando Adonis (Michael B. Jordan), filho de seu ex-adversário e amigo, Apollo Creed (Carl Weathers). O trabalho rendeu ao astro o Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante.
| Crítica | Creed: Nascido Para Lutar
Apollo faleceu em Rocky IV pelas mãos do adversário Ivan Drago (Dolph Lundgren). Creed II é continuação direta tanto do longa de três anos atrás como daquele de 33 anos antes.
Coogler volta como produtor após comandar o megassucesso Pantera Negra e deixa a cadeira de direção para o amigo Steven Caple Jr., de carreira curta e pontuada por trabalhos na TV e poucos longas-metragens. Assim, Creed II revela-se um filme competente, sem o virtuosismo do anterior, que trazia um round inteiro filmado em plano-sequência, sem cortes, nos levando para dentro do ringue.
A derrota para Rocky fez Drago cair no ostracismo. Vivendo à margem da sociedade, treina o filho Viktor (Florian Monteanu), boxeador em ascensão, implacável e que chama a atenção do promotor de lutas fanfarrão Buddy Marcelle (Russell Hornsby). Enquanto isso, Adonis e a namorada Bianca seguem suas vidas. Ele, treinado por Rocky, disputa o título mundial dos pesos pesados. Ela, segue fazendo shows de sucesso. Tudo vai bem até os caminhos de Adonis e Viktor se cruzarem.
Antigas feridas retornam. Temos, pela frente, a velha trama de hesitação, superação e redenção. A maneira como o roteiro, escrito pelo próprio Stallone em parceria com Juel Taylor (curiosamente mais experiente no departamento de som, com 18 trabalhos listados no IMDB), é construído, remete à dinâmica de Rocky III (1982).
Por mais que possamos antecipar algumas situações, a história mantém a essência que fez a franquia Rocky durar tanto tempo e, agora, faz a saga Creed manter nosso interesse: os personagens são gente como a gente. Erram, choram, vibram, têm medo.
Particularmente, eu que perdi meu pai recentemente, me emocionei diversas vezes. Creed II, que amadurece o relacionamento entre o protagonista e Bianca (a sempre ótima Tessa Thompson) é principalmente sobre pais e filhos. Rocky é a figura paterna de Adonis que, por sua vez, não esquece Apollo e se torna pai. Há também a relação conturbada entre Ivan e Viktor Drago.
Vale ressaltar que, dessa vez, nos aproximamos de Drago de maneira que não era possível em Rocky IV. Aquela produção funcionava como mera propaganda do capitalismo norte-americano e mostrava soviéticos de forma caricata. Não à toa é um dos piores da série e, para os fãs, soa um “guilty pleasure” (algo que sabemos ser ruim, mas ainda assim gostamos).
Não faltam cenas de luta eletrizantes, as velhas e boas sequências de treinamento e a trilha sonora de Ludwig Göransson, que ecoa acordes da música clássica de Bill Conti, empolga. Para os mais aficionados, há a aparição de dois antigos personagens. Stallone divulgou que foi sua última atuação na pele de Rocky. Fica a saudade. Mas o legado está mantido em Adonis, vivido com intensidade, alguma marra e carisma por Michael B. Jordan.
Creed II.
2018. EUA.
Direção: Steven Caple Jr.
Com Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Florian Monteanu, Wood Harris, Russell Hornsby, Phylicia Rashad, Milo Ventimiglia, Brigitte Nielsen.
130 minutos.