Um século e cinco gerações da vida de uma família no circo. Assim poderia ser resumido, de forma bem corriqueira, o novo longa de Carlos Diegues. Paixões, dramas e realismo mágico são empregados em seu 24º longa e nosso pré-candidato ao Oscar 2019 – disputa para ficar entre os 5 finalistas na categoria de melhor Filme Estrangeiro.
A história que vai de 1910 a 2010 é uma mistura de tantos assuntos, gêneros e tenta ser tantas coisas que, na verdade, se perde não só nos temas abordados, mas principalmente na forma como escolhe tratá-los. Ao usar o ótimo Jesuíta Barbosa (que brilhou esse ano com Malasartes e o Duelo com a Morte) como fio-condutor para essa história que atravessa gerações, o filme é uma miscelânea de temas, tem cenas de sexo que beiram à pornochanchada, drogas, violência, prostituição, etc, que não se conectam ou, quando o fazem, é de maneira tão errada que a produção acaba sendo vítima de suas próprias ambições.
O longa tem sim certo lirismo (em especial, nas apresentações circenses), mas é como se fossem cenas bonitas e interessantes num emaranhado de erros. Jesuíta é o único personagem que não envelhece durante todo o filme (tendo aí um papel meio realismo mágico) e o filme até conta com um bom elenco de apoio que vai do francês com alma brasileira, Vincent Cassel, Antônio Fagundes (em participação especial), a belíssima Bruna Linzmeyer e Mariana Ximenes. Essa última, por sinal, apesar de todo esforço dramático, parece ter o papel mais ingrato, fazendo com que sua personagem tenha atitudes para lá de duvidosas.
Mais o que mais incomoda é que o que poderia ser um belo filme, que atravessa gerações através da arte e tem nas mulheres, em especial, papéis fundamentais é, na verdade, uma obra repleta de atitudes e consequências do machismo de alguns personagens masculinos que fazem com que essas mulheres paguem, muitas vezes, um alto preço por isso.
Essa análise pode parecer injusta com a produção, mas o que se sente ao ver o filme é isso. Infelizmente. Há beleza, lirismo e boas atuações, mas falta coerência à história, verossimilhança a alguns personagens e que o filme escolhesse o que abordar. Esse não é o único longa que me fez sentir assim este ano. Em Um Segredo em Paris, em pouco mais de 1 hora (70 minutos), o diretor misturava gêneros de romance, drama, policial e se perdia, pois não sabia pra qual direção o filme devia ir. Aqui é quase a mesma coisa, mas tem cenas tão nonsenses (como as cenas de sexo que comentei acima, além de uma cena de estupro e outra de prostituição) que não dá para serem levadas a sério.
O que resta, então? Algumas belas encenações circenses e ótimos atores a serviço de uma produção que não os merece. Uma pena…
Mais difícil do que ficar entre os cinco indicados ao Oscar vai ser, pasme, torcer pelo longa se ele chegar à reta final. Triste verdade.
Em um ano que o cinema nacional teve um filme tão bonito e humano quanto Benzinho, a comissão julgadora fez uma má escolha e o mais triste é saber que quem paga por isso, geralmente, acaba sendo o público.
O Grande Circo Místico
2018. Brasil, Portugal, França.
Direção: Carlos Diegues.
Com Jesuíta Barbosa, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Mariana Ximenes e Antônio Fagundes (participação especial).
105 min.