
Produzido pelo Netflix, o filme de Noah Baumbach levou o mais inusitado dos prêmios no Festival de Cannes 2017: a Palm Dog, para o cãozinho Einstein, que “interpreta” Bruno, xodó do escultor Harold, ninguém menos que Dustin Hoffman. A categoria foi criada em 2001 para intensificar a pauta sobre proteção aos animais. Mas Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe oferece muito mais.
O veterano ator é o patrono da família título. Teve quatro casamentos – ou três, pois um foi anulado, como dirá em determinado momento. Tem três filhos, de mães diferentes. São eles Danny, Matthew e Jean. Os dois primeiros são vividos por Adam Sandler e Ben Stiller. Sandler curiosamente mais contido, em tom dramático, diferente do exagero casual. Stiller parece viver em formol. As poucas rugas não traduzem a diferença de idade para quando estrelou sucessos tipo Quem Vai Ficar com Mary? e Uma Noite no Museu.
Quem interpreta a irmã é Elizabeth Marvel, veterana da televisão: a presidente Elizabeth Keane de Homeland, a Heather Dunbar de House of Cards, a Constance de Fargo, e a Rita Calhoun de Law & Order: Special Victims Unit. Aqui seu papel é mais tímido, vítima da relação conturbada entre irmãos e o pai.
Egocêntrico, Harold é frustrado por não ter alcançado o reconhecimento sonhado, ao contrário do velho amigo e agora consagrado artista L.J. Shapiro (Judd Hirsch, de Independence Day).
Trata-se da reunião de grandes atores. Alguns, rostos bem conhecidos do grande público. Outros, um pouco menos. Porém, uma olhada mais atenta e perceberemos que a Doutora Soni é Sakina Jaffrey, a Linda Vasquez de House of Cards (novamente) e também presente em Mr. Robot e Timeless.
Em menor participação está o Kylo Ren de Star Wars, o sempre ótimo Adam Driver. E a revelação Grace Van Patten. Os jovens vivem respectivamente Randy, filho de Matthew, seguindo os passos do pai no ramo imobiliário, e Eliza, aspirante ao mundo do cinema, filha de Danny.
Não acabou. A grande Emma Thompson faz Maureen, a atual companheira de Harold. E Sigourney Weaver surge em rápida participação como… Sigourney Weaver!
Tanta gente boa junta já vale a atenção. Melhor ainda se o roteiro contribuir para diálogos espirituosos, irônicos, deliciosos e situações vividas por milhões de famílias ao redor do mundo. O pai ora negligente, ora exigente. O(s) filho(s) ressentido(s). Aquele que sente-se relegado a segundo plano. As feridas abertas. O trauma em acompanhar alguém próximo no hospital. A médica que inicialmente promete a recuperação rápida do paciente. Depois, as trocas de enfermeiros, dos próprios doutores e o prolongamento da internação. Não é só no SUS. Um parente que joga a responsabilidade para o outro na hora de cuidar do ente enfermo. A necessidade de dizer o que é sentido antes de se tarde.
Situações e cenas orquestradas com maestria por Noah Baumbach. Guardadas as devidas proporções, o cineasta alcança mais ou menos o que Woody Allen e Wes Anderson, em diferentes esferas, conseguem: atrair um belo elenco graças ao talento enquanto diretor e roteirista. Profissionais querem trabalhar ao seu lado por que sabem: sairão com papéis provocantes, marcantes, cativantes. E nós assistimos a seus filmes justamente por isso. Sabemos: seremos presentados com tramas provocantes, marcantes, cativantes.
Nesse sentido, o Netflix destaca-se como canal ideal para cineastas independentes, ousados, cujos trabalhos não tendem a alcançarem grandes bilheterias nas telonas e, assim, nem sempre conseguem financiar seus projetos. Algo a ser refletido quando discutimos o momento do audiovisual e os meios para exibições de filmes e séries.
Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe
The Meyerowitz Stories (New and Selected)
EUA. 2017.
De Noah Baumbach.
Com Dustin Hoffman, Adam Sandler, Ben Stiller, Elizabath Marvel, Emma Thompson, Grace Van Patten, Adam Driver, Sakina Jaffrey, Sigourney Weaver, Judd Hirsch.
1h52min.