Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais”
Assim falava um trecho da canção “Como Nossos Pais”, escrita por Belchior e imortalizada na voz de Elis Regina. O título dessa música tão marcante é também o título do novo filme da talentosa cineasta, Laís Bodanzky. Mesmo tendo dirigido tão poucos filmes até o momento (esse é apenas seu 4º longa-metragem) é inegável a qualidade de seu trabalho (ela também dirigiu curtas e alguns documentários) e é possível, inclusive, classificar sua filmografia como retratos do tempo. Sejam da incompreensão entre pais e filhos e suas consequências (“Bicho de Sete Cabeças”), da juventude (“As Melhores Coisas do Mundo”), da 3ª idade (“Chega de Saudade”) e com esse novo trabalho, o retrato da mulher na atualidade.
Maria Ribeiro (“Entre Nós”) é Rosa, mãe, esposa, filha e trabalhadora (tanto dentro como fora de casa) é a Mulher Maravilha dos tempos modernos. Tentando sempre dar o máximo de si para agradar a todos, mas não consegue fazer isso nem com marido, com as filhas, com o patrão e pior, nem consigo mesma.
Com uma revelação de sua mãe que lhe cai como uma bomba, Rosa passa a ter uma outra perspectiva da vida.
Sem dúvida, o filme toca em feridas como o machismo constante até os dias atuais, onde, por exemplo, num almoço de família, a matriarca (a grande Clarisse Abujamra, em atuação marcante) serve a mesa para os convidados e sua filha, a protagonista Rosa é “convidada” a ajudar a mãe na tarefa.
Maria Ribeiro está esplêndida vivendo a protagonista, uma pessoa encurralada entre a família que ela faz de tudo para agradar (com uma relação desgastada com o marido e a rebeldia de uma de suas filhas), seu excêntrico e atrapalhado pai (o músico Jorge Mautner, ótimo) e sua mãe, com quem tem uma relação pra lá de complicada. Por sinal, as cenas entre Maria Ribeiro e Clarisse Abujamra estão entre as melhores do filme, pois além do talento das atrizes, os diálogos entre as personagens é repleto de verdades (ditas ou não).
Sem dúvida, “Como Nossos Pais” é o filme mais maduro de Laís Bodanzky e, também, o mais incômodo desde “Bicho de Sete Cabeças”, mas isso não faz com que se deva evitá-lo ou se distanciar dele. Pelo contrário: mais do que um belo filme, é um filme necessário para ser discutido, mas não sobre o papel da mulher na sociedade, mas sim sobre a forma como até hoje, tentam impor-lhes papéis, obrigações e limites para tudo. Quando, na verdade, cada um deveria ter o direito de escolher seus caminhos, limites e papéis em sua vida, independente de sexualidade, gênero, classe social, etc.
“Como Nossos Pais” é um longa para ser assistido e discutido. E, quem sabe, seja capaz de mudar um pouco algumas cabeças atrasadas do mundo moderno. Não perca!
Como Nossos Pais.
Brasil. 2017.
Direção: Laís Bodanzky.
Com Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, Jorge Mautner.
1h42min.