Há alguns clichês da crítica cinematográfica recorrentes a Woody Allen e sua filmografia. Um deles: qualquer filme mediano do cineasta é melhor que a maioria feita por aí. Outro, mais recente: que o diretor está virando paródia de si. Verdade ou preguiça intelectual? Para uma carreira de décadas, e alguém que não abre mão de fazer um filme por ano, é quase impossível não repetir temas, bordões.
Quando evocou “Crimes e Pecados” (1989) no incensado “Match Point” (2005), o tratamento da mídia para com o lançamento foi de homenagem. Agora, “Magia ao Luar”, que de longe não tem a ambição artística de outros trabalhos dele, é encarado como repetição, mais do mesmo. Ok, há o quê de fantasia, sobrenatural, de “Meia-Noite em Paris” (2011). Tem o ilusionista de “Scoop – O Grande Furo” (2006). Estão lá as lindas paisagens europeias, a abertura com os letreiros e a trilha sonora que tanto conhecemos – e adoramos. Mas existe mais ali. Ainda que o roteiro pareça ter sido rodado sem maior tratamento.
Colin Firth é Stanley, veterano mágico com nome artístico oriental e que é contratado para acabar com a suposta farsa da encantadora jovem Sophie (Emma Stone). Ela afirma ser médium. Inicialmente cético, aos poucos ele passa a se questionar e se vê atraído pela moça.
A história é, a princípio, bobinha. Duas pessoas de idades, vidas e universos diferentes que se encontram e se atraem. As questões levantadas como fé, credulidade e ceticismo poderiam render discussões mais profundas. Ao parecer deixar sua história e seus personagens leves e soltos, Allen prega uma peça no público e na crítica. Afinal, não seriam os artistas grandes enganadores, mentirosos? E não nos deixamos levar por essas mentiras, que muitas vezes servem para acalentar nossos anseios?
Bobinho, sim. Mediano, e superior a tantos outros por aí? Também. Esse clichê passa. O que não dá é para encarar o retorno a temas e abordagens como algo decadente. Talvez uma autoparódia intencional de alguém que sabe que a própria obra à qual recorre é melhor e mais rica que outras. Atitude pedante – pode ser – de um velhinho que não se cansa de fazer cinema, atrair grandes atores que topam trabalhar por muito menos do que costumam receber, e só cansará quem não tem sensibilidade ou a curiosidade de ver além, enxergar a tal magia do título e que vez ou outra se esconde em detalhes. Ou de quem não consegue se encantar com o olhar fulminante de Emma Stone, o charme de Colin Firth, o carinho com que cada personagem é apresentado.
Estreia no Brasil: 28/11/2014.