Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) transcendeu o gênero de tal maneira, que seria praticamente impossível uma continuação superá-lo. Ao anúncio de Bane como Vilão, e a presença da Mulher-Gato na história, mais as fofocas de uma possível presença de Robin na trama, fizeram o público questionar se estava por vir algo ao estilo de Homem-Aranha 3 (2007), de Sam Raimi, no qual os produtores, empolgados pelas qualidades e grandes bilheterias dos filmes anteriores, decidiram enfiar vários personagens na trama, tornando aquele o filme mais fraco da franquia aracnídea.
Após quatro anos de expectativa, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge mostrou-se longe de ser uma decepção. Também não chega à quase perfeição dos dois outros longas.
É baseado, em parte, na saga A Queda do Morcego, que apresentava um vilão extremamente estratégico e forte, Bane. Nos quadrinhos, o bandido testava os limites físicos e psicológicos de Bruce Wayne até deixar Batman exausto, para “quebrá-lo”. Tanto que Bruce ficou paralítico durante um bom tempo nas HQs. No cinema, a origem de Bane e sua relação com Batman foram alteradas, porém o personagem continuou visceral e um inimigo à altura do herói.
O Batman voltando à ativa após anos parado remete à história de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Na trama, passaram-se oito anos desde que o cavaleiro das trevas foi visto pela última vez. Gotham parece ter alcançado a paz desejada. Parece… Bruce vive recluso em sua mansão e com problema em uma das pernas (resquício do filme anterior). Até uma ladra, Selina Kyle (Anne Hathaway) levá-lo a vestir novamente o manto. É quando entra em cena Bane, que visa tomar Gotham como parte de um plano que remete a Batman Begins (2005).
O mais longo (2 horas e 44 minutos) dos três filmes dirigidos por Christopher Nolan, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge tem segundo ato extremamente longo, e alguns pontos do roteiro que geraram polêmica entre os fãs e críticos: a citação a Robin, a morte de Thalia (Marion Cotillard), o ressurgimento de Bruce Wayne após o exílio e a forma como Bane não sabe da volta do algoz sendo que está intimamente ligado a uma outra pessoa que vê Bruce Wayne retornar.
Mostrando que o cinema é “reflexo de seu tempo”, Nolan aborda o movimento Ocuppy Wall Street – de protesto contra a desigualdade econômica e social – na sequência da Bolsa de Valores e os “revolucionários” que fingem estar ao lado do povo, mas atuam em benefício próprio. No caso, Bane.
O Cavaleiro das Trevas Ressurge conclui satisfatoriamente (apesar do final ambíguo) a trilogia e homenageia, inclusive, o longa de 1966 estrelado por Adam West com a sequência final da bomba. Joseph Gordon-Lewitt vive com firmeza o jovem policial Blake, importante na história. O elenco é novamente bom. Tom Hardy mantém o tom ameaçador frequente de Bane, Anne Hathaway está envolvente como pede Selina Kyle (a palavra “Mulher-Gato” jamais é citada), e remete à versão de Julie Newmar de 1966, Michael Caine e Morgan Freeman são os competentes de sempre. Apenas a vencedora do Oscar, Marion Cotillard, não convence como a empresária Miranda/Thalia.
Se a crítica ficou dividida, o público não hesitou: o filme foi grande sucesso de bilheteria arrecadando mais de US$ 1 bilhão, o segundo em seguida a chegar à marca na trilogia – depois filmes da Marvel Studios igualariam e superariam o feito.
Pena que os produtores não desenvolveram, a partir da série, o tão aguardado universo cinematográfico da DC. Nolan criou seu universo para o Batman de forma tão “fechada” que seria uma missão e tanto para os roteiristas inserir essa versão num universo maior repleto de meta-humanos.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
The Dark Knight Rises.
EUA, Reino Unido. 2012.
Direção: Christopher Nolan.
Com Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Matthew Modine, Ben Mendelsohn.
164 minutos.