
Se você acha o “Batman” dos anos 60 engraçado, não viu nada. Adam West foi, na verdade, um sucessor de Lewis Wilson (1920-2000), que duas décadas antes vestiu o uniforme do homem morcego no cinema. O primeiro de vários atores que encarnariam o herói. Em junho de 1943, “Batman” – “O Morcego” no Brasil – chegou às matinês cinematográficas dos EUA em 15 episódios, quatro anos após o personagem ganhar as páginas dos gibis.
Produzida pela Columbia Pictures, responsável pela primeira aparição live action do Superman, em 1948, a série teve direção de Lambert Hillyer (1889-1969), sujeito incansável, que entre 1917 e 1949 dirigiu mais de 160 filmes! Era um período de recursos parcos, ok. Mas nada justifica a tosquice cometida. Mesmo porque adaptações dos quadrinhos para o cinema eram feitas seguidamente e várias com um pingo de dignidade.
A abertura já faz rir. Batman, melancólico, está em sua escrivaninha, na Batcaverna. Morceguinhos de papel voam pra lá e pra cá até um serelepe Robin dar as caras. A dupla sai de cena abraçada, dando vazão àqueles comentários maliciosos dos fãs.
Era só o começo. O uniforme é nitidamente mais folgado que o corpo nada convincente do ator. Os chifres do capuz ficam caídos. A máscara de Robin lembra a do Zorro, com elástico prendendo-a ao redor da cabeça. Durante a trama, Batman deixa a capa cair (e ela volta intacta na cena seguinte), cigarros (!!!) voam do cinto de utilidades, o protagonista ressurge inteirinho depois de quedas mortais e, ainda por cima, o carro utilizado pelo Cruzado de Capa é a mesma limusine de Bruce Wayne!
http://www.youtube.com/watch?v=yHsbaQdKOiw&feature=youtu.be
Sem contar a história em si. Batman e Robin não atuam na clandestinidade. São agentes do FBI. E combatem uma figuraça: Dr. Tito Daka, cientista japonês cujo hobby é criar crocodilos e alimentá-los com frangos. É dele também a máquina capaz de transformar pessoas em zumbis, controlados por um moderníssimo microfone. Vale destacar o esconderijo do vilão, localizado no trem-fantasma de um parque de diversões e decorado com motivos orientais.
| A história do Batman no cinema: Parte I
Apesar de nonsense, a série foi duramente criticada. Os produtores valeram-se do combate contra o Japão na Segunda Guerra para criar um inimigo nipônico estereotipado e faturar mais.
Nada disso obviamente impediu o sucesso da produção, que, inclusive, influenciou os gibis: pela primeira vez na mitologia do Cavaleiro das Trevas a Batcaverna foi mostrada e Alfred retratado como alguém magro e de fino bigode.
A obra está disponível no Brasil pela ClassicLine, empresa especializada em vender DVDs de filmes que, por algum motivo, não possuem detentores de direitos autorais. A distribuidora também lançou por aqui “Batman and Robin”, de 1949, que repetiria o sucesso e as esquisitices do seriado anterior.
A história continua…
BATMAN
(Idem, EUA, 1943).
Direção: Lambert Hillyer.
Roteiro: Victor McLeod, Leslie Swabacker, Harry L. Fraser.
Elenco: Lewis Wilson, Douglas Croft, J. Carrol Naish, Shirley Patterson, William Austin.
Ação / Aventura / Crime.
260 minutos divididos em 15 episódios.
Disponível em DVD