Após o sucesso de tantos filmes baseados em histórias em quadrinhos, é normal que ambas as artes passem a se alimentar uma da outra. Não são poucos os casos em que, com o êxito de adaptações para o cinema ou a tevê, as mitologias de super-heróis pegaram emprestado o que deu certo nas outras mídias.
Batman Anual #3 traz ao Brasil a história Batman: Amantes & Loucos (Batman: Lovers & Madmen), originalmente publicada da sétima à décima segunda edição de Batman Confidential, que mostrou novas versões para as primeiras aventuras do homem morcego. Publicada entre 2007 e 2008 nos Estados Unidos, a saga mostra a origem do Coringa, e tem bastante dos filmes do herói.
Escrita por Michael Green (série “Heroes”), a trama pode ser encarada como uma mistura do primeiro “Batman”, de Tim Burton, “Batman Begins” e as clássicas HQs A Piada Mortal, de Alan Moore, e Batman: Ano Um, de Frank Miller. Daria para incluir o filme “O Cavaleiro das Trevas”, mas como ele foi lançado em 2008, ano em que o gibi ainda estava sendo produzido, fica difícil saber quem se inspirou em quem, ou se houve influência de uma obra para a outra.
Somos apresentados a Jack, que rouba e mata sem um perfil pré-determinado. A sangue frio. Fica feliz com o sofrimento alheio. Bruce Wayne, que passou anos estudando as mentes criminosas, não entende a motivação do novo algoz. Gotham entra em pânico. A polícia também não sabe como agir. Os traficantes se rendem ao novo bandido. As pessoas têm medo de andar pelas ruas. Para complicar a mente do Cavaleiro das Trevas, ele se apaixona, mas sabe que o amor não tem espaço em sua “missão”. Na cruzada contra o vilão, Batman acabará, sem querer, dando vida a seu mais famoso inimigo: o Coringa.
Bem desenhada, com diálogos espertos, Amantes & Loucos tem tudo o que os fãs de Batman apreciam: tensão, suspense, investigação, ação, drama. O surgimento do Palhaço do Crime é quase igual ao do filme de Tim Burton. A diferença é que o Coringa não é engraçadinho como aquele interpretado por Jack Nicholson. Se aproxima muito mais do personagem escrito por Allan Moore em A Piada Mortal e anos depois refeito em versão ainda mais dark no longa “O Cavaleiro das Trevas”, encarnado de forma arrepiante por Heath Ledger. Trata-se do mal pelo mal. O perfil do bandido em Amantes & Loucos pode ser compreendido num diálogo entre o Dr. Jonathan Crane (antes de virar o Espantalho) e Bruce Wayne. “Não é um criminoso. Isto não é crime. É maldade”, dispara o psiquiatra a um Bruce estupefato.
Aliás, a presença de Crane é referência clara a “Batman Begins”, no qual o personagem foi vivido por Cillian Murphy. Seu interesse não é recuperar os criminosos, e sim fazer experimentos com eles.
A inclusão do romance na trama dramatiza a jornada do Cruzado de Capa, mas ao mesmo torna a batalha contra o Coringa algo pessoal.
Amantes & Loucos chega em edição bacana no Brasil. Traz introdução de Brad Meltzer, escritor de best-selles e roteirista de HQs consagradas como Crise de Identidade e Arqueiro Verde: A Busca. Também reúne as capas originais publicadas nos EUA. Não é e nem se tornará uma história clássica do homem morcego do quilate de A Piada Mortal, Batman: Ano Um ou O Cavaleiro das Trevas. Mesmo por que não tem a originalidade dessas. Na verdade, repete muito dessas obras, principalmente das duas primeiras. Dá alguns escorregões. O mordomo Alfred, por exemplo, vira especialista em tecnologia, capaz de criar um tipo de computador inédito! No entanto, o gibi vale a conferida e está acima da média.
BATMAN ANUAL 3: AMANTES & LOUCOS
(Batman Confidential #7 a #12, EUA 2007-2008).
Roteiro: Michael Green.
Desenhos: Denys Cowan.
Arte-final: John Floyd.
Edição no Brasil: Panini Comics.
Formato americano.
148 páginas.
R$ 15,90