Por André Azenha
Anjos e Demônios (Angels & Demons, EUA, 2009). Direção: Ron Howard. Roteiro: David Koepp e Akiva Goldsman, baseado em livro de Dan Brown. Elenco: Tom Hanks, Ewan McGregor, Ayelet Zurer, Stellan Skarsgard, Armin Mueller-Stahl. Suspense. 138 min. (Cor).
Nós seres humanos somos atraídos por tudo que possa parecer misterioso, principalmente quando o tal mistério pode envolver nossa história e tende a questionar dogmas estabelecidos há séculos. Certo disso, o americano Dan Brown soube como escrever livros que, qualidades literárias a parte, partiram da tal premissa, e, somados a boas doses de suspense e aventura, tornaram-se sucessos internacionais.
“O Código Da Vinci” vendeu cerca de 80 milhões de exemplares nos quatro cantos do planeta, ganhou uma adaptação cinematográfica em 2006, que apesar de irregular, repetiu o êxito do livro perante o público (só nos três primeiros dias de exibição foram US$ 224 milhões arrecadados mundialmente). O longa ainda serviu para chamar a atenção para o livro anterior do autor, “Anjos e Demônios” (40 milhões de exemplares comercializados), cujos acontecimentos, adaptados para o cinema, se passam após os fatos de “O Código Da Vinci”, o filme.
Nesta produção retornam o diretor Ron Howard e o protagonista Tom Hanks (dessa vez com um corte de cabelo menos “polêmico”) – ambos já haviam trabalhado em três filmes: o próprio “Código…”, “Splash – Uma Sereia em Minha Vida” (1984) e “Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo” (1995).
A fórmula é praticamente a mesma. O professor Robert Langdon (Hanks) outra vez se vê envolvido num quebra-cabeça que envolve uma organização secreta secular, bate de frente com a igreja católica e tem a ajuda de uma bela moça (sai a francesinha Audrey Tautou, de “O Código Da Vinci”, para dar lugar à israelense Ayelet Zurer, de “Ponto de Vista”, no papel da cientista italiana Vittoria Vetra).
Langdon e Vetra se encontram quando ele é procurado pelo Vaticano para investigar o desaparecimento de quatro cardeais que são os principais postulantes ao papado – o último Papa faleceu em circunstâncias misteriosas. E esse desaparecimento está ligado a um possível atentado organizado pela Illuminati, antiga organização formada por cientistas, que planeja detonar uma bomba de antimatéria produzida a partir de uma cápsula roubada do laboratório onde Vittoria trabalhava. Para ajudar na investigação, surge ainda um camerlengo (cardeal que administra a igreja entre a morte de um papa e a eleição do sucessor) interpretado por Ewan McGregor.
Se no longa anterior havia muita falação desnecessária, ignorando tudo o que a história original do livro possuía de melhor, aqui entra a ação praticamente ininterrupta. Exageros são cometidos em boa parte das sequencias, o tempo de projeção é um tanto longo demais e o elenco funciona no piloto automático (a melhor em cena é Ayelet Zurer), porém o roteiro adaptado de Akiva Goldsman condensa de forma eficaz o livro e a parte técnica é praticamente impecável – os mandatários da igreja proibiram que a equipe de filmagem trabalhasse dentro do Vaticano e a reprodução do pequeno país é espetacular.
“Anjos e Demônios” não causa a mesma polêmica com os católicos, como aconteceu na obra anterior. Pelo contrário, a diocese chega a ser tratada até com certa simpatia em determinado momento. Diferente de tantos outros filmes que geraram protestos do Vaticano, dessa vez os líderes católicos decidiram simplesmente ignorar o longa, com o intuito de evitar que o marketing ao redor da obra se tornasse uma bola de neve.
Superior a “O Código Da Vinci” num todo (o que não é grande coisa), está longe de ser espetacular, mas é um bom thriller, que satisfaz o desejo da platéia por tramas misteriosas, prende a atenção e possui algumas boas cenas de ação.
6,5